domingo, 14 de fevereiro de 2010

E agora José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?

Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,

a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia

e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;

quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.

José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você consasse,
se você morresse....

Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!

José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 17 de janeiro de 2010

A balada da dança da Capulana


Debaixo do sol dos trópicos, o caminho das estrelas enfrenta a sua jornada de união
A valsa ritmada dos corpos celestes, encontram eco nos cantares das cantadeiras da viagem

Os versos ecoados em sons forte e quentes clamam a abalada, clamam a dor, clamam o amor

A noiva cheira a partida, a família chora a despedida a família agradece a neófita nos antigos mesteres da família.

Alfaias de trabalho são entregues, sonhos a caminho, esperança no futuro e nas mãos que a recebe

Regressamos ao inicio, pedimos vida, pedimos amor , pedimos harmonia
Voltamos á festa da noiva, o silencio murmura nas paredes da casa da filha perdida.
De volta encontramos os sons da comemoração.

Surgem eles, volta a alegria, agradecem-se aos deuses, o pai abraça a filha perdida, o noivo dança com as deusas do contentamento.

Cumpriu-se o ritual, ritmou-se a partida, espera-se pelo raiar do dia onde o sol ilumina o caminho da união que será certamente a chama da vida.

Tiago Soares (maputo Dezembro 2009)