Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,a água que de súbito
brota da tua alegria,a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansadosàs vezes por ver
que a terra não muda,mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros soltao teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,e na primavera, amor,quero teu riso como
a flor que esperava,a flor azul, a rosada minha pátria sonora.
Ri-te da noite,do dia, da lua,ri-te das ruas
tortas da ilha,ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,mas quando abro
os olhos e os fecho,quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,nega-me o pão, o ar,a luz,
a primavera,mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda
terça-feira, 13 de outubro de 2009
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