Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Fernando Pessoa
domingo, 13 de dezembro de 2009
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
O Amor è uma companhia
O amor é uma companhia
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Alberto Caeiro
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Alberto Caeiro
sábado, 24 de outubro de 2009
Raven" - Poem
Years like wings.
What does the motion
less raven remember?
What do the dead the roots of trees remember?
Your hands had the colour of an apple ready to fall.
And that voice which always returns, that low voice.
Those who travel watch the sail and the stars,
they hear the wind they hear beyond the wind the other sea like a closed shell near them,
they don't hear anything else, they don't look among the shadows of the cypresses;
for a lost face, a coin; they don't search, watching a raven on a dry branch, for what it remembers.
It remains motion
less just a little above my hours like the soul of an eyeless statue.
There is a throng gathered in that bird;
thousands of people forgotten, wrinkles obliterated broken embraces and laughter that has not ended, works arrested, silent stations.
a heavy sleep of golden spangles. It remains motionless.
It gazes at my hours. What does it remember?
There are many wounds inside those invisible people, inside it,
suspended passions waiting for the Second Coming humble desires cleaved upon the ground, children slaughtered and women exhausted at dawn.
Who knows if it lies heavy on the dry branch,
if it lies heavy on the roots of the yellow tree,
on the shoulders of other men, these strange figures sunk in the ground,
not daring to touch even a drop of water?
Who knows if it lies heavy anywhere at all?
Your hands had the weight of hands in the water in the sea caves, a light care
free weight with that movement we make sometimes when we dismiss a black thought by pushing the sea away to the horizon, to the islands.
The plain Is heavy after the rain; what remembers that black static flame on the grey sky, wedged between man and the memory of map,
between the wound and the hand which was wounded by a black lance.
The plain darkened drinking the rain, the wind dropped;
my own breath isn't enough;
who will remove it? Amidst the memory, a gulf - a startled breast amidst the shadows struggling to become man and woman again amidst sleep and death a stagnant life.
Your hands moved always towards the sea's drowsiness caressing the dream that ascended the golden spider bearing into the sun the host of constellations the closed eyelids the closed wings...
George Seferis
What does the motion
less raven remember?
What do the dead the roots of trees remember?
Your hands had the colour of an apple ready to fall.
And that voice which always returns, that low voice.
Those who travel watch the sail and the stars,
they hear the wind they hear beyond the wind the other sea like a closed shell near them,
they don't hear anything else, they don't look among the shadows of the cypresses;
for a lost face, a coin; they don't search, watching a raven on a dry branch, for what it remembers.
It remains motion
less just a little above my hours like the soul of an eyeless statue.
There is a throng gathered in that bird;
thousands of people forgotten, wrinkles obliterated broken embraces and laughter that has not ended, works arrested, silent stations.
a heavy sleep of golden spangles. It remains motionless.
It gazes at my hours. What does it remember?
There are many wounds inside those invisible people, inside it,
suspended passions waiting for the Second Coming humble desires cleaved upon the ground, children slaughtered and women exhausted at dawn.
Who knows if it lies heavy on the dry branch,
if it lies heavy on the roots of the yellow tree,
on the shoulders of other men, these strange figures sunk in the ground,
not daring to touch even a drop of water?
Who knows if it lies heavy anywhere at all?
Your hands had the weight of hands in the water in the sea caves, a light care
free weight with that movement we make sometimes when we dismiss a black thought by pushing the sea away to the horizon, to the islands.
The plain Is heavy after the rain; what remembers that black static flame on the grey sky, wedged between man and the memory of map,
between the wound and the hand which was wounded by a black lance.
The plain darkened drinking the rain, the wind dropped;
my own breath isn't enough;
who will remove it? Amidst the memory, a gulf - a startled breast amidst the shadows struggling to become man and woman again amidst sleep and death a stagnant life.
Your hands moved always towards the sea's drowsiness caressing the dream that ascended the golden spider bearing into the sun the host of constellations the closed eyelids the closed wings...
George Seferis
terça-feira, 13 de outubro de 2009
A DançaNão te amo como se fosse rosa de sal, topázio
Ou flecha de cravos que propagam fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e
Leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores.
E graças a teu amor, vive oculto em meu
Corpo o apertado aroma que ascende da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde.
Te amo directamente sem problemas nem orgulho;
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim, deste modo, em que não sou nem és.
Tão perto de tua mão sobre meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Pablo Neruda
Ou flecha de cravos que propagam fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e
Leva dentro de si, oculta, a luz daquelas flores.
E graças a teu amor, vive oculto em meu
Corpo o apertado aroma que ascende da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde.
Te amo directamente sem problemas nem orgulho;
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim, deste modo, em que não sou nem és.
Tão perto de tua mão sobre meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Pablo Neruda
a vida politica
A vida política veio como uma tempestade para me tirar de meu trabalho. Voltei uma vez mais a multidão.
A multidão tem sido para mim a lição de minha vida. Posso chegar a ela com a inerente timidez do poeta, com o temor do tímido, mas — uma vez em seu seio — sinto-me transfigurado. Sou parte da maioria essencial, sou mais uma folha da grande árvore humana.
(Confesso que vivi, p. 353)
Pablo Neruda
A multidão tem sido para mim a lição de minha vida. Posso chegar a ela com a inerente timidez do poeta, com o temor do tímido, mas — uma vez em seu seio — sinto-me transfigurado. Sou parte da maioria essencial, sou mais uma folha da grande árvore humana.
(Confesso que vivi, p. 353)
Pablo Neruda
o teu riso
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,a água que de súbito
brota da tua alegria,a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansadosàs vezes por ver
que a terra não muda,mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros soltao teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,e na primavera, amor,quero teu riso como
a flor que esperava,a flor azul, a rosada minha pátria sonora.
Ri-te da noite,do dia, da lua,ri-te das ruas
tortas da ilha,ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,mas quando abro
os olhos e os fecho,quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,nega-me o pão, o ar,a luz,
a primavera,mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,a água que de súbito
brota da tua alegria,a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansadosàs vezes por ver
que a terra não muda,mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros soltao teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,e na primavera, amor,quero teu riso como
a flor que esperava,a flor azul, a rosada minha pátria sonora.
Ri-te da noite,do dia, da lua,ri-te das ruas
tortas da ilha,ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,mas quando abro
os olhos e os fecho,quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,nega-me o pão, o ar,a luz,
a primavera,mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Andaluces de Jaen,
aceituneros altivos,
decidme en el alma:
Quien, quien levanto los olivos?
No los levanto la nada,
ni el dinero, ni el señor,
sino la tierra callada,
el trabajo y el sudor.
Unidos al agua pura
y a los planetas unidos,
los tres dieron la hermosura
de los troncos retorcidos.
Levantate, olivo cano,
dijeron al pie del viento.
Y el olivo alzo una mano
poderosa de cimiento.
Andaluces de Jaen,
aceituneros altivos,
decidme en el alma:
Quien, amamanto los olivos?
Vuestra sangre, vuestra vida,no la del explotador
que se enriquecio en la heridagenerosa del sudor.
No la del terrateniente
que os sepulto en la pobreza,
que os pisoteo la frente,
que os redujo la cabeza.
Arboles que vuestro afan
consagro al centro del día
eran principio de un pan
que solo el otro comía.
Cuantos siglos de aceituna,
los pies y las manos presos,
sol a sol y luna a luna,
pesan sobre vuestros huesos!
Andaluces de Jaen, aceituneros
altivos, pregunta mi alma:de quién,
de quién son estos olivos?
Jaen, levantate bravasobre tus piedras lunares,
no vayas a ser esclavacon todos tus olivares.
Dentro de la claridad del aceite
y sus aromas,
indican tu libertad
la libertad de tus lomas.
Miguel Hernandez
aceituneros altivos,
decidme en el alma:
Quien, quien levanto los olivos?
No los levanto la nada,
ni el dinero, ni el señor,
sino la tierra callada,
el trabajo y el sudor.
Unidos al agua pura
y a los planetas unidos,
los tres dieron la hermosura
de los troncos retorcidos.
Levantate, olivo cano,
dijeron al pie del viento.
Y el olivo alzo una mano
poderosa de cimiento.
Andaluces de Jaen,
aceituneros altivos,
decidme en el alma:
Quien, amamanto los olivos?
Vuestra sangre, vuestra vida,no la del explotador
que se enriquecio en la heridagenerosa del sudor.
No la del terrateniente
que os sepulto en la pobreza,
que os pisoteo la frente,
que os redujo la cabeza.
Arboles que vuestro afan
consagro al centro del día
eran principio de un pan
que solo el otro comía.
Cuantos siglos de aceituna,
los pies y las manos presos,
sol a sol y luna a luna,
pesan sobre vuestros huesos!
Andaluces de Jaen, aceituneros
altivos, pregunta mi alma:de quién,
de quién son estos olivos?
Jaen, levantate bravasobre tus piedras lunares,
no vayas a ser esclavacon todos tus olivares.
Dentro de la claridad del aceite
y sus aromas,
indican tu libertad
la libertad de tus lomas.
Miguel Hernandez
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
"Canção tão simples
Quem poderá domar os cavalos do vento
quem poderá domar este tropel
do pensamento
à flor da pele?
Quem poderá calar a voz do sino triste
que diz por dentro do que não se diz
a fúria em riste
do meu país?
Quem poderá proibir estas letras de chuva
que gota a gota escrevem nas vidraças
pátria viúva
a dor que passa?
Quem poderá prender os dedos farpas
que dentro da canção fazem das brisas
as armas harpas
que são precisas?
Manuel Alegre"
Quem poderá domar os cavalos do vento
quem poderá domar este tropel
do pensamento
à flor da pele?
Quem poderá calar a voz do sino triste
que diz por dentro do que não se diz
a fúria em riste
do meu país?
Quem poderá proibir estas letras de chuva
que gota a gota escrevem nas vidraças
pátria viúva
a dor que passa?
Quem poderá prender os dedos farpas
que dentro da canção fazem das brisas
as armas harpas
que são precisas?
Manuel Alegre"
domingo, 6 de setembro de 2009
Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano por tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.
Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más de cerca y nuestros ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua.
Julio Cortazar" Rayuela"
Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más de cerca y nuestros ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua.
Julio Cortazar" Rayuela"
Louvor do Revolucionário
Quando a opressão aumenta
Muitos se desencorajam
Mas a coragem dele cresce.
Ele organiza a luta ~
Pelo tostão do salário,
pela água do chá
E pelo poder no Estado.
Pergunta à propriedade:
Donde vens tu?
Pergunta às opiniões:
A quem aproveitais?
Onde quer que todos calem
Ali falará ele
E onde reina a opressão e se fala do Destino
Ele nomeará os nomes.
Onde se senta à mesa
Senta-se a insatisfação à mesa
A comida estraga-se
E reconhece-se que o quarto é acanhado.
Pra onde quer que o expulsem, para lá
Vai a revolta, e donde é escorraçado
Fica ainda lá o desassossego.
Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Quando a opressão aumenta
Muitos se desencorajam
Mas a coragem dele cresce.
Ele organiza a luta ~
Pelo tostão do salário,
pela água do chá
E pelo poder no Estado.
Pergunta à propriedade:
Donde vens tu?
Pergunta às opiniões:
A quem aproveitais?
Onde quer que todos calem
Ali falará ele
E onde reina a opressão e se fala do Destino
Ele nomeará os nomes.
Onde se senta à mesa
Senta-se a insatisfação à mesa
A comida estraga-se
E reconhece-se que o quarto é acanhado.
Pra onde quer que o expulsem, para lá
Vai a revolta, e donde é escorraçado
Fica ainda lá o desassossego.
Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
UN SON PARA NIÑOS ANTILLANOS
Por el Mar de las Antillas
anda un barco de papel:
Anda y anda el barco
barco,sin timonel.
De La Habana a Portobelo
,de Jamaica a Trinidad,
anda y anda el barco barco
sin capitán.
Una negra va en la popa,
va en la proa un español:
Anda y anda el barco barco,
con ellos dos.
Pasan islas, islas, islas,muchas islas,
siempre más;
anda y anda el barco barco,s
in descansar.
Un cañón de chocolate
contra el barco disparó,
y un cañón de azúcar, zúcar,
le contestó.¡
Ay, mi barco marinero,
con su casco de papel!
¡Ay, mi barco negro y
blancosin timonel!
Allá va la negra negra,
junto junto al español;
anda y anda el barco barco
con ellos dos.
Nicolas Guillen
anda un barco de papel:
Anda y anda el barco
barco,sin timonel.
De La Habana a Portobelo
,de Jamaica a Trinidad,
anda y anda el barco barco
sin capitán.
Una negra va en la popa,
va en la proa un español:
Anda y anda el barco barco,
con ellos dos.
Pasan islas, islas, islas,muchas islas,
siempre más;
anda y anda el barco barco,s
in descansar.
Un cañón de chocolate
contra el barco disparó,
y un cañón de azúcar, zúcar,
le contestó.¡
Ay, mi barco marinero,
con su casco de papel!
¡Ay, mi barco negro y
blancosin timonel!
Allá va la negra negra,
junto junto al español;
anda y anda el barco barco
con ellos dos.
Nicolas Guillen
Me queda la palabra
Si he perdido la vida,
el tiempo, todo
lo que tiré, como un anillo, al agua,
si he perdido la voz en la maleza,
me queda la palabra.
Si he sufrido la sed, el hambre, todo
lo que era mío y resultó ser nada,
si he segado las sombras en silencio,
me queda la palabra.
Si abrí los labios para ver el rostro
puro y terrible de mi patria,
si abrí los labios hasta desgarrármelos,
me queda la palabra
Blas de Otero
el tiempo, todo
lo que tiré, como un anillo, al agua,
si he perdido la voz en la maleza,
me queda la palabra.
Si he sufrido la sed, el hambre, todo
lo que era mío y resultó ser nada,
si he segado las sombras en silencio,
me queda la palabra.
Si abrí los labios para ver el rostro
puro y terrible de mi patria,
si abrí los labios hasta desgarrármelos,
me queda la palabra
Blas de Otero
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
ao amigo joão Antunes
Fim
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro~
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá Carneiro
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro~
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá Carneiro
domingo, 30 de agosto de 2009
Nambuangongo Meu Amor
Em Nambuangongo tu não viste nada
não viste nada nesse dia longo longo
a cabeça cortada
e a flor bombardeada
não tu não viste nada em Nambuangongo
Falavas de Hiroxima tu que nunca viste
em cada homem um morto que não morre.
Sim nós sabemos Hiroxima é triste
mas ouve em Nambuangongo existe
em cada homem um rio que não corre.
Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto
em Nambuangongo a gente lembra a gente esquece
em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu.
Tu não sabes mas eu digo-te: dói muito.
Em Nambuangongo há gente que apodrece.
Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.
É justo que me fales de Hiroxima.
Porém tu nada sabes deste tempo longo longo
tempo exactamente em cima do nosso tempo.
Ai tempo onde a palavra vida rima com a palavra morte em Nambuangongo.
Manuel Alegre
Em Nambuangongo tu não viste nada
não viste nada nesse dia longo longo
a cabeça cortada
e a flor bombardeada
não tu não viste nada em Nambuangongo
Falavas de Hiroxima tu que nunca viste
em cada homem um morto que não morre.
Sim nós sabemos Hiroxima é triste
mas ouve em Nambuangongo existe
em cada homem um rio que não corre.
Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto
em Nambuangongo a gente lembra a gente esquece
em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu.
Tu não sabes mas eu digo-te: dói muito.
Em Nambuangongo há gente que apodrece.
Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.
É justo que me fales de Hiroxima.
Porém tu nada sabes deste tempo longo longo
tempo exactamente em cima do nosso tempo.
Ai tempo onde a palavra vida rima com a palavra morte em Nambuangongo.
Manuel Alegre
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Mamã negra (canto da esperança)
Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça,
Drama de carne e sangue
Que a Vida escreveu com a pena dos séculos!
Pela tua voz~
Vozes vindas dos canaviais
dos arrozais dos cafezais
[dos seringais dos algodoais!...
Vozes das plantações de Virgínia
dos campos das Carolinas
Alabama
Cuba
Brasil...
Vozes dos engenhos dos bangüês das tongas dos eitos
[das pampas das minas!
Vozes de Harlem Hill
District South vozes das sanzalas!
Vozes gemendo blues,
subindo do Mississipi,
ecoando
[dos vagões!
Vozes chorando na voz de Corrothers:
Lord God, what will have we done-
Vozes de toda América!
Vozes de toda África!
Voz de todas as vozes, na voz altiva de Langston
Na bela voz de Guillén...
Pelo teu dorso
Rebrilhantes dorsos aso sóis mais fortes do mundo!
Rebrilhantes dorsos, fecundando com sangue, com suor
[amaciando as mais ricas terras do mundo!
Rebrilhantes dorsos
(ai, a cor desses dorsos...)
Rebrilhantes dorsos torcidos no "tronco", pendentes da
[forca, caídos por Lynch!
Rebrilhantes dorsos
(Ah, como brilham esses dorsos!)ressuscitados em Zumbi, em Toussaint alevantados!Rebrilhantes dorsos...
brilhem, brilhem, batedores de jazz
rebentem, rebentem, grilhetas da Alma evade-te, ó Alma, nas asas da Música! ...do brilho do Sol, do Sol fecundo imortal e belo...
Pelo teu regaço, minha Mãe,
Outras gentes embaladas
à voz da ternura ninadas
do teu leite alimentadas
de bondade e poesia
de música ritmo e graça...
santos poetas e sábios...
Outras gentes... não teus filhos,
que estes nascendo alimárias
semoventes, coisas várias,
mais são filhos da desgraça:
a enxada é o seu brinquedo
trabalho escravo - folguedo...
Pelos teus olhos, minha Mãe~
Vejo oceanos de dor
Claridades de sol-posto,
paisagensRoxas paisagens
Dramas de Cam e Jafé...
Mas vejo (Oh! se vejo!...)
mas vejo também que a luz roubada aos teus
[olhos, ora esplendedemoniacamente tentadora -
como a Certeza...
cintilantemente firme -
como a Esperança...
em nós outros, teus filhos,
gerando, formando, anunciando
o dia da humanidade
O DIA DA HUMANIDADE!...
Antonio Jacinto
Drama de carne e sangue
Que a Vida escreveu com a pena dos séculos!
Pela tua voz~
Vozes vindas dos canaviais
dos arrozais dos cafezais
[dos seringais dos algodoais!...
Vozes das plantações de Virgínia
dos campos das Carolinas
Alabama
Cuba
Brasil...
Vozes dos engenhos dos bangüês das tongas dos eitos
[das pampas das minas!
Vozes de Harlem Hill
District South vozes das sanzalas!
Vozes gemendo blues,
subindo do Mississipi,
ecoando
[dos vagões!
Vozes chorando na voz de Corrothers:
Lord God, what will have we done-
Vozes de toda América!
Vozes de toda África!
Voz de todas as vozes, na voz altiva de Langston
Na bela voz de Guillén...
Pelo teu dorso
Rebrilhantes dorsos aso sóis mais fortes do mundo!
Rebrilhantes dorsos, fecundando com sangue, com suor
[amaciando as mais ricas terras do mundo!
Rebrilhantes dorsos
(ai, a cor desses dorsos...)
Rebrilhantes dorsos torcidos no "tronco", pendentes da
[forca, caídos por Lynch!
Rebrilhantes dorsos
(Ah, como brilham esses dorsos!)ressuscitados em Zumbi, em Toussaint alevantados!Rebrilhantes dorsos...
brilhem, brilhem, batedores de jazz
rebentem, rebentem, grilhetas da Alma evade-te, ó Alma, nas asas da Música! ...do brilho do Sol, do Sol fecundo imortal e belo...
Pelo teu regaço, minha Mãe,
Outras gentes embaladas
à voz da ternura ninadas
do teu leite alimentadas
de bondade e poesia
de música ritmo e graça...
santos poetas e sábios...
Outras gentes... não teus filhos,
que estes nascendo alimárias
semoventes, coisas várias,
mais são filhos da desgraça:
a enxada é o seu brinquedo
trabalho escravo - folguedo...
Pelos teus olhos, minha Mãe~
Vejo oceanos de dor
Claridades de sol-posto,
paisagensRoxas paisagens
Dramas de Cam e Jafé...
Mas vejo (Oh! se vejo!...)
mas vejo também que a luz roubada aos teus
[olhos, ora esplendedemoniacamente tentadora -
como a Certeza...
cintilantemente firme -
como a Esperança...
em nós outros, teus filhos,
gerando, formando, anunciando
o dia da humanidade
O DIA DA HUMANIDADE!...
Antonio Jacinto
Eu queria escrever-te uma carta amor,
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio de te perder
deste mais bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...
Eu queria escrever-te uma carta amor,
uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí...
Eu queria escrever-te uma carta amor,
que recordasse nossos tempos a capopa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura da nossa paixão
e a amargura da nossa separação
Eu queria escrever-te uma carta amor,
que a não lesses sem suspirar que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento
Eu queria escrever-te uma carta amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajús e cafeeiros que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender
para que o vento a perdesse no caminho os bichos e plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levassem puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor
Eu queria escrever-te uma carta...
Mas ah meu amor, eu não sei compreender por que é,
por que é, por que é,
meu bem que tu não sabes ler e eu -
Oh! Desespero! -
não sei escrever também
António Jacinto
Poemas, 1961, Luanda
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio de te perder
deste mais bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...
Eu queria escrever-te uma carta amor,
uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí...
Eu queria escrever-te uma carta amor,
que recordasse nossos tempos a capopa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura da nossa paixão
e a amargura da nossa separação
Eu queria escrever-te uma carta amor,
que a não lesses sem suspirar que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento
Eu queria escrever-te uma carta amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajús e cafeeiros que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender
para que o vento a perdesse no caminho os bichos e plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levassem puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor
Eu queria escrever-te uma carta...
Mas ah meu amor, eu não sei compreender por que é,
por que é, por que é,
meu bem que tu não sabes ler e eu -
Oh! Desespero! -
não sei escrever também
António Jacinto
Poemas, 1961, Luanda
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Soneto de Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Que vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Que vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Femme Noire
Mulher nua, mulher negra
Vestida de tua cor que é vida, de tua forma que é beleza!
Cresci à tua sombra; a doçura de tuas mãos acariciou os meus olhos.
E eis que, no auge do verão, em pleno Sul, eu te descubro,
Terra prometida, do cimo de alto desfiladeiro calcinado,
E tua beleza me atinge em pleno coração, como o golpe certeiro de uma águia.
Fêmea nua, fêmea escura.
Fruto sazonado de carne vigorosa, êxtase escuro de vinho negro,
boca que faz lírica a minha boca
savana de horizontes puros,
savana que freme com as carícias ardentes do vento Leste.
Tam-tam escultural,
tenso tambor que murmura sob os dedos do vencedor
Tua voz grave de contralto é o canto espiritual da Amada.
Fêmea nua, fêmea negra,
Lençol de óleo que nenhum sopro enruga,
óleo calmo nos flancos do atleta, nos flancos dos príncipes do Mali.
Gazela de adornos celestes, as pérolas são estrelas sobre a noite da tua pele.
Delícia do espírito, as cintilações de ouro sobre tua pele que ondula à sombra de tua cabeleira.
Dissipa-se minha angústia, ante o sol dos teus olhos.
Mulher nua, fêmea negra,
Eu te canto a beleza passageira para fixá-la eternamente,
antes que o zelo do destino te reduza a cinzas para alimentar as raízes da vida.
Leopold Sédar Senghor
Mulher nua, mulher negra
Vestida de tua cor que é vida, de tua forma que é beleza!
Cresci à tua sombra; a doçura de tuas mãos acariciou os meus olhos.
E eis que, no auge do verão, em pleno Sul, eu te descubro,
Terra prometida, do cimo de alto desfiladeiro calcinado,
E tua beleza me atinge em pleno coração, como o golpe certeiro de uma águia.
Fêmea nua, fêmea escura.
Fruto sazonado de carne vigorosa, êxtase escuro de vinho negro,
boca que faz lírica a minha boca
savana de horizontes puros,
savana que freme com as carícias ardentes do vento Leste.
Tam-tam escultural,
tenso tambor que murmura sob os dedos do vencedor
Tua voz grave de contralto é o canto espiritual da Amada.
Fêmea nua, fêmea negra,
Lençol de óleo que nenhum sopro enruga,
óleo calmo nos flancos do atleta, nos flancos dos príncipes do Mali.
Gazela de adornos celestes, as pérolas são estrelas sobre a noite da tua pele.
Delícia do espírito, as cintilações de ouro sobre tua pele que ondula à sombra de tua cabeleira.
Dissipa-se minha angústia, ante o sol dos teus olhos.
Mulher nua, fêmea negra,
Eu te canto a beleza passageira para fixá-la eternamente,
antes que o zelo do destino te reduza a cinzas para alimentar as raízes da vida.
Leopold Sédar Senghor
Endechas a Bárbara escrava
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.
Luís de Camões
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.
Luís de Camões
domingo, 23 de agosto de 2009
sábado, 22 de agosto de 2009
ARTE POÉTICA
A poesia não está nas olheiras imorais de Ofélia nem no jardim dos lilases.
A poesia está na vida,nas artérias imensas cheias de gente em todos os sentidos,
nos ascensores constantes,na bicha de automóveis rápidos de todos os feitios e de todas as cores,
nas máquinas da fábrica e nos operários da fábrica e no fumo da fábrica.
A poesia está no grito do rapaz apregoando jornais, no vaivém de milhões de pessoas conversando ou praguejando ou rindo.
Está no riso da loira da tabacaria,vendendo um maço de tabaco e uma caixa de fósforos.
Está nos pulmões de aço cortando o espaço e o mar.
A poesia está na doca,nos braços negros dos carregadores de carvão,
no beijo que se trocou no minuto entre o trabalho e o jantar—
e só durou esse minuto.
A poesia está em tudo quanto vive, em todo o movimento, nas rodas do comboio a caminho, a caminho, a caminho de terras sempre mais longe,
nas mãos sem luvas que se estendem para seios sem véus,na angústia da vida.
A poesia está na luta dos homens,está nos olhos abertos para amanhã.
Mario Dionisio
A poesia não está nas olheiras imorais de Ofélia nem no jardim dos lilases.
A poesia está na vida,nas artérias imensas cheias de gente em todos os sentidos,
nos ascensores constantes,na bicha de automóveis rápidos de todos os feitios e de todas as cores,
nas máquinas da fábrica e nos operários da fábrica e no fumo da fábrica.
A poesia está no grito do rapaz apregoando jornais, no vaivém de milhões de pessoas conversando ou praguejando ou rindo.
Está no riso da loira da tabacaria,vendendo um maço de tabaco e uma caixa de fósforos.
Está nos pulmões de aço cortando o espaço e o mar.
A poesia está na doca,nos braços negros dos carregadores de carvão,
no beijo que se trocou no minuto entre o trabalho e o jantar—
e só durou esse minuto.
A poesia está em tudo quanto vive, em todo o movimento, nas rodas do comboio a caminho, a caminho, a caminho de terras sempre mais longe,
nas mãos sem luvas que se estendem para seios sem véus,na angústia da vida.
A poesia está na luta dos homens,está nos olhos abertos para amanhã.
Mario Dionisio
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre
Vinicius de Moraes
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre
Vinicius de Moraes
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão em leme da nau
Nesta deriva em que vou.
Me confesso
Possesso
Das virtudes teologais,
Que são três,
E dos pecados mortais
Que são sete,
Quando a terra não repete
Que são mais.
Me confesso
O dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
E das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.
Me confesso de ser charco
E luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima
E abaixo da minha altura.
Me confesso de ser tudo
Que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
Desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.
Me confesso de ser Homem.
De ser o anjo caído
Do tal céu que Deus governa;
De ser o monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!
Miguel Torga
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão em leme da nau
Nesta deriva em que vou.
Me confesso
Possesso
Das virtudes teologais,
Que são três,
E dos pecados mortais
Que são sete,
Quando a terra não repete
Que são mais.
Me confesso
O dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
E das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.
Me confesso de ser charco
E luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima
E abaixo da minha altura.
Me confesso de ser tudo
Que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
Desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.
Me confesso de ser Homem.
De ser o anjo caído
Do tal céu que Deus governa;
De ser o monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!
Miguel Torga
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
sábado, 8 de agosto de 2009
Terceiro Canto de Amor a Stalingrado
Pablo Neruda
Stalingrado
com as asas tórridas
do verão, os brancos
casarões elevando-se:
uma cidade comum.
As pessoas apressadas
vão ao trabalho.
Um cão cruza
o dia empoeirado.
Uma menina corre
com um papel na mão.
Não passa nada,
além do Volga
de águas escuras.
Uma a uma as casas
se levantaram
a partir do peito do homem,
e voltaram os selos do correio,
os ônibus,
as árvores,
voltaram as crianças,
as escolas, voltou o amor.
as mães
dão a luz,
voltaram as certezas
e as ramas,
o vento,
o céu, e então?
Sim. É a mesma,
não cabe dúvida.
Aqui esteve a linha,
a casa,
a esquina,
o metro e o centímetro
onde a nossa vida e a razão
de todas as nossas vidas
foi conquistada
com sangue.
Aqui se cortou o nó
que apertou a garganta
da história.
Foi aqui. Sim parece mentira
que podemos
pisar na rua e ver
a menina e o cachorro,
escrever uma carta,
mandar um telegrama,
porém talvez,
para isso,
para este dia igual
a cada dia,
para este sol simples
na paz dos homens
foi a vitória
aqui, nesta cinza
da terra sagrada.
Pão de hoje, livro de hoje,
pinheiro fresco
plantado esta manhã,
luminosa avenida
recém chegada do papel
onde o engenheiro
a traçou sob o vento da guerra,
criança que passa, cachorro
que atravessa o dia empoeirado,
oh milagres,
milagres de sangue,
milagres do aço e do Partido,
milagres do nosso novo mundo.
Rama de acácias com espinhos e flores
onde, onde
terás maior perfume
que neste lugar onde todo perfume foi derramado
em que tudo caiu
menos o homem
o homem destes dias,
o soldado soviético?
Oh, rama perfumada,
exala
aqui
mais que uma concentrada primavera!
Aqui exalas o homem e a esperança,
aqui, rama de acácia,
não pode queimar-te o fogo
nem sepultar-te o vento da morte.
Aqui ressuscitaste a cada dia
sem haver morrido nunca,
e hoje no teu aroma o infinito humano
de ontem e de amanhã
de depois de amanhã
nos volta a dar sua eternidade florida.
És como a usina de tratores:
hoje florescem de novo
grandes flores metálicas
que entraram na terra
para que a semente
seja multiplicada.
Também a usina foi cinza,
ferro retorcido, espuma
sangrenta da guerra,
porém seu coração não se deteve
foi aprendendo a morrer e a renascer.
Stalingrado ensinou ao mundo
a suprema lição de vida:
nascer, nascer, nascer,
e nascia
morrendo,
disparava
nascendo,
ia de bruços e se levantava
com um raio na mão.
Toda noite sangrava
e já na aurora
podia emprestar sangue
a todas as cidades da terra.
Empalidecia com a neve negra
e toda a morte caindo
e quando olhávamos
para vê-la cair,
quando chorávamos
seu final de fortaleza,
ela nos sorria,
Stalingrado
nos sorria.
E agora
a morte se foi:
apenas algumas paredes;
algum ferro retorcido
bombardeado e torto,
apenas algum rastro
como uma cicatriz de orgulho,
tudo é claridade, lua e espaço,
determinação e brancura
e no alto
uma rama de acácia,
folhas, flores, espinhos defensores,
a extensa primavera
de Stalingrado,
o invencível aroma
de Stalingrado!
Pablo Neruda
Stalingrado
com as asas tórridas
do verão, os brancos
casarões elevando-se:
uma cidade comum.
As pessoas apressadas
vão ao trabalho.
Um cão cruza
o dia empoeirado.
Uma menina corre
com um papel na mão.
Não passa nada,
além do Volga
de águas escuras.
Uma a uma as casas
se levantaram
a partir do peito do homem,
e voltaram os selos do correio,
os ônibus,
as árvores,
voltaram as crianças,
as escolas, voltou o amor.
as mães
dão a luz,
voltaram as certezas
e as ramas,
o vento,
o céu, e então?
Sim. É a mesma,
não cabe dúvida.
Aqui esteve a linha,
a casa,
a esquina,
o metro e o centímetro
onde a nossa vida e a razão
de todas as nossas vidas
foi conquistada
com sangue.
Aqui se cortou o nó
que apertou a garganta
da história.
Foi aqui. Sim parece mentira
que podemos
pisar na rua e ver
a menina e o cachorro,
escrever uma carta,
mandar um telegrama,
porém talvez,
para isso,
para este dia igual
a cada dia,
para este sol simples
na paz dos homens
foi a vitória
aqui, nesta cinza
da terra sagrada.
Pão de hoje, livro de hoje,
pinheiro fresco
plantado esta manhã,
luminosa avenida
recém chegada do papel
onde o engenheiro
a traçou sob o vento da guerra,
criança que passa, cachorro
que atravessa o dia empoeirado,
oh milagres,
milagres de sangue,
milagres do aço e do Partido,
milagres do nosso novo mundo.
Rama de acácias com espinhos e flores
onde, onde
terás maior perfume
que neste lugar onde todo perfume foi derramado
em que tudo caiu
menos o homem
o homem destes dias,
o soldado soviético?
Oh, rama perfumada,
exala
aqui
mais que uma concentrada primavera!
Aqui exalas o homem e a esperança,
aqui, rama de acácia,
não pode queimar-te o fogo
nem sepultar-te o vento da morte.
Aqui ressuscitaste a cada dia
sem haver morrido nunca,
e hoje no teu aroma o infinito humano
de ontem e de amanhã
de depois de amanhã
nos volta a dar sua eternidade florida.
És como a usina de tratores:
hoje florescem de novo
grandes flores metálicas
que entraram na terra
para que a semente
seja multiplicada.
Também a usina foi cinza,
ferro retorcido, espuma
sangrenta da guerra,
porém seu coração não se deteve
foi aprendendo a morrer e a renascer.
Stalingrado ensinou ao mundo
a suprema lição de vida:
nascer, nascer, nascer,
e nascia
morrendo,
disparava
nascendo,
ia de bruços e se levantava
com um raio na mão.
Toda noite sangrava
e já na aurora
podia emprestar sangue
a todas as cidades da terra.
Empalidecia com a neve negra
e toda a morte caindo
e quando olhávamos
para vê-la cair,
quando chorávamos
seu final de fortaleza,
ela nos sorria,
Stalingrado
nos sorria.
E agora
a morte se foi:
apenas algumas paredes;
algum ferro retorcido
bombardeado e torto,
apenas algum rastro
como uma cicatriz de orgulho,
tudo é claridade, lua e espaço,
determinação e brancura
e no alto
uma rama de acácia,
folhas, flores, espinhos defensores,
a extensa primavera
de Stalingrado,
o invencível aroma
de Stalingrado!
crise,fim da poesia no ano 2000
Poeta Pablo NerudaResposta a uma entrevistaPerguntaram o que acontecerá com a poesia no ano 2000.- É uma pergunta difícil. Se esta pergunta me assaltasse num beco escuro me levaria um susto de pai e senhor meu.Porque, o que sei eu do ano 2000? Do que estou seguro é que não se celebrará o funeral da poesia no primeiro século.Em cada época deram por morta a poesia, mas ela se vem demonstrando vitalícia, ressuscita com grande intensidade, parece ser eterna.A poesia acompanhou os agonizantes e estancou as dores, conduziu às vitórias, acompanhou os solitários, foi ardente como o fogo, ligeira e fresca como a neve, teve mãos, dedos e punhos, teve brotos como a primavera: fincou raízes no coração do homem.
A ele que sonhou estéticamente a América
Meu caminho junta-se ao caminho de todos. E em seguida vejo que desde o sul da solidão fui para o norte que é o povo, o povo ao qual minha humilde poesia quisera servir de espada e de lenço para secar o suor de suas grandes dores e para dar-lhes uma arma na luta pelo pão.
Pablo Neruda
Pablo Neruda
Voz da América
El Balada Del Agua Del Mar
Federico García Lorca
El marsonríe a lo lejos.
Dientes de espuma,labios de cielo.
¿Qué vendes, oh joven turbiacon los senos al aire?
Vendo, señor, el aguade los mares.
¿Qué llevas, oh negro joven,mezclado con tu sangre?
Llevo, señor, el aguade los mares.
¿Esas lágrimas solobres de dónde vienen, madre?
Lloro, señor, el aguade los mares.
Corazón y esta amarguraseria, ?de dónde nace?
¡Amarga mucho el aguade los mares!
El marsonríe a lo lejos.Dientes de espuma,labios de cielo.
Federico García Lorca
El marsonríe a lo lejos.
Dientes de espuma,labios de cielo.
¿Qué vendes, oh joven turbiacon los senos al aire?
Vendo, señor, el aguade los mares.
¿Qué llevas, oh negro joven,mezclado con tu sangre?
Llevo, señor, el aguade los mares.
¿Esas lágrimas solobres de dónde vienen, madre?
Lloro, señor, el aguade los mares.
Corazón y esta amarguraseria, ?de dónde nace?
¡Amarga mucho el aguade los mares!
El marsonríe a lo lejos.Dientes de espuma,labios de cielo.
As maravilhas da genética
A genética tem combinações muito felizes.... As mulheres dominicanas são disso exemplo .......
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